Por Natanael Rinaldi
Já há algum tempo, o renomado apologista Jan Karel Van
Baalen, em sua importante obra, O caos das seitas, nos alertou acerca de um
problema que a igreja evangélica no mundo vem enfrentando. Notadamente, Van
Baalen ressalta o desconhecimento das doutrinas bíblicas fundamentais por parte
dos cristãos em contraposição ao empenho incansável dos adeptos das seitas no
estudo metódico de suas doutrinas e também das doutrinas daqueles a quem
pretendem convencer. Todo aquele que já teve a experiência de dialogar com um
sectário pôde perceber que ele domina os fundamentos de sua crença, e também a
doutrina dos divergentes. Raramente esse quadro é pintado de outra forma.
Confirmando os
apontamentos de Van Baalen, verificamos que muitos membros de nossas igrejas se
esquivam da abordagem aos adeptos de seitas pela admitida incompetência de
dialogar com eles, a fim de ganhá-los para Cristo. Paulo, entretanto, observou
a importância do estudo bíblico quando recomendou :
“Retendo firme
a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para
admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes”(Tt 1.9;
grifo do autor).
A expressão “a
fiel palavra, que é conforme a doutrina” pode ser interpretada como um fruto
gerado pelo conhecimento teológico. E a expressão “convencer os
contradizentes”, pode ser interpretada como um ato de evangelizar pessoas que
professam uma fé distinta do genuíno cristianismo.
Será que somos
hábeis em conduzir um sectário a Jesus por meio da Bíblia? Qual é a importância
da teologia na apologética ? Vejamos :
A relação entre a teologia e a apologética
A apologética
cristã é uma disciplina da teologia cuja finalidade é defender os princípios
bíblicos por ela (teologia) expressos. Assim, a apologética visa combater os
desvios doutrinários identificados nas diversas disciplinas teológicas,
especialmente nas doutrinas essenciais, como a natureza divina (Pai, Filho e
Espírito Santo) e a encarnação, morte e ressurreição de Cristo, entre outras.
Observando esta
relação, podemos concluir que a apologética atua em função da teologia. É
porque os princípios doutrinários existem e são distorcidos que a apologética é
necessária. Logo, todos os elementos da apologética dependem e convergem para a
teologia. Com isso em mente, entendemos que a apologética será conduzida de
acordo com a teologia que quer defender. Portanto, se alguém possuir algumas
doutrinas distorcidas como base, sua apologética seguirá a mesma tendência.
Diante destes pressupostos, vejamos algumas categorias da apologética e como
essas categorias se relacionam com as doutrinas teológicas :
Apologética clássica
Este tipo de abordagem trabalha com o principal pressuposto
teológico, isto é, a existência de Deus. É essa linha apologética que vai
explorar os argumentos comprobatórios da existência divina. Os principais
argumentos são :
a.)
Cosmológico: uma vez que cada coisa existente no Universo, deve ter uma causa,
deve haver um Deus, que é a última causa de tudo.
b.) Teológico:
existe um objetivo, um propósito para a criação do Universo e do ser humano.
c.) Ontológico: Deus é maior do que todos os
seres concebidos porque existe na mente do homem um conhecimento básico da
existência de Deus.
Os teólogos que
se destacaram como apologistas clássicos foram: Agostinho, Anselmo de Cantuária
e Tomás de Aquino.
Apologética evidente
Como já podemos
inferir do próprio nome, esta linha apologética procura defender as doutrinas
teológicas ressaltando as evidências que as envolvem, tais como: a
infalibilidade da Bíblia, a veracidade da divindade de Cristo e sua
ressurreição, entre outras. Um teólogo que representa bem esta classe de
apologistas em nossos dias é Josh McDowell, autor do livro (um best seller)
Evidências que exigem um veredicto.
Apologética histórica
Esta classe de apologética
enfatiza as evidências históricas. Seus representantes acreditam que a
existência de Deus pode ser provada com base apenas na evidência histórica,
porém, isso não significa que não lancem mão de outros artifícios. Geralmente,
o fundamento deste tipo de abordagem são os documentos do Novo Testamento e a
confiabilidade de suas testemunhas.
Podemos
encontrar teólogos expoentes da apologética histórica nos primórdios da igreja,
como Justino Mártir e Tertuliano.
Apologética experimental
Este tipo de
apologética, geralmente, é apresentada por fiéis que arrogam para si
experiências religiosas pessoais e, às vezes, exclusivas. Assim, alguns
apologistas rejeitam este tipo de abordagem por seu caráter excessivamente
místico e alegam que tais experiências são comprobatórias apenas para os que
nelas crêem ou delas compartilham. Em suma, a apologética experimental se apóia
na experiência cristã como evidência do cristianismo e está relacionada à
teologia do leigo; ou seja, à teologia que não é acadêmica, mas popular.
Um ponto
negativo desta abordagem é que ela se apresenta de forma um tanto quanto
subjetiva. Ou seja, é difícil de sentenciá-la como verdade ou fraude. O seu
ponto positivo, porém, é que a nossa crença precisa, de fato, ser vivida,
experimentada, do contrário não passará de teoria.
Apologética pressuposicional
Esta abordagem é chamada assim porque parte de uma
pressuposição para construir sua defesa.. O “pressuposicionalismo” pode ser
assim classificado :
a.)
Revelacional : todo o entendimento da verdade parte da pressuposição da
revelação de Deus e da legitimidade da Bíblia em expor esta revelação.
b.) Racional :
a pressuposição básica gira em torno da coerência do argumento. Se o
cristianismo arroga para si a posição de única verdade, então isso implica em
dizer e provar que todos os demais sistemas são falsos.
c.) Prático : a
pressuposição aqui é a de que somente as verdades cristãs podem ser vividas.
Os teólogos que se destacaram como apologistas “pressuposicionalistas”
foram : Cornelius Van Till e John Carnell.
A teologia como um baluarte contra o erro
Como podemos
confirmar, independente do tipo de apologética que esteja sendo exercido, o
fato é que todas se relacionam com os fundamentos da teologia.
Sabemos que a
grande ocorrência da apostasia em nosso meio envolve seitas pseudocristãs, ou
seja, aquelas que mais se assemelham com o cristianismo. Isto se deve ao
emprego distorcido dos fundamentos teológicos facilmente aceitos entre os crentes
incautos. É como se fosse um disfarce do cristianismo, uma maquiagem para a
verdade cristã.
Quando um
crente encontra-se desabilitado para defender sua fé, ele fatalmente está
propenso ao engano. Disse Charles Hodge: “Que ninguém creia que o erro
doutrinário seja um mal de pouca importância. Nenhum caminho para a perdição
jamais se encheu de tanta gente como o da falsa doutrina”. A tragédia
espiritual de inúmeros crentes é que eles não atentam para isso !
O apologista
Walter Martin também alertou que é conhecendo a verdadeira nota que conseguimos
identificar a falsa. É possível ser um teólogo e não ser apologista, embora
isso não seja plausível. Entretanto, é impossível ser um apologista sem ser um
teólogo ! O conhecimento das doutrinas fundamentais da Bíblia é o maior
baluarte contra o erro. Todo o engodo está na deturpação das Escrituras, na
distorção da doutrina. Uma teologia voltada para a apologia certamente evitaria
os modismos que têm causado escândalo entre os evangélicos em nosso país.
Vejamos o que o apóstolo Paulo orientou a Timóteo :
“Tem cuidado de
ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te
salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1Tm 4.16; grifo do autor).
A Tito, ele
declarou:
“Em tudo, te dá
por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade,
sinceridade” (Tt 2.7; grifo do autor).
O nosso desejo e oração é para que, assim como Paulo, os
líderes de nossas igrejas também se dediquem em orientar e conscientizar seus
colaboradores sobre a importância da teologia na defesa da fé de seus membros. Somente assim, e com o auxílio
do Espírito Santo, conseguiremos manter singelas as verdades eternas da Palavra
de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fiquem a vontade para comentar ! Comentários discordantes e pontos de vistas diferentes podem ser feitos. Excluiremos apenas comentários agressivos e desrespeitosos !